terça-feira, 29 de abril de 2008

Introdução à Filosofia da Arte


Para aqueles que desejam se aprofundar mais nas produções de dança e na formação crítica de arte, segue a dica de um bom livro que irá auxiliá-lo a analisar com olhos mais maduros a situação da arte na atualidade e no decorrer da história.

Introdução à Filosofia da Arte, de Benedito Nunes (Editora Ática), mostra como se deu a construção da idéia da arte em Aristóteles e Platão para analisar os principais filósofos de arte contemporâneos. Atenta com mais acuidade para o modernismo, o movimento antropofágico e a crítica do século XIX até fins do século XX no Brasil.



Examinai tudo. Retende o bem.
(1 Tessalonicenses 5:21)



Boa Leitura !!!

Poesia Encarnada

(Imagem: Marika Gidali - Diretora do Ballet Stagium)



A maior parte dos artistas cristãos de dança com quem tive contato direto ou indireto, não têm o hábito de ler, ainda menos o hábito de ler para produzir dança. Isso não é uma regra, nem precisa ser. Mas, por experiência própria, percebi que a leitura de textos filosóficos, críticas, poesias e literaturas ajudam MUITO na produção de obras de arte.

Essas leituras não só auxiliam na criação como também dão respaldo para a mensagem, sensação, história, idéia, pesquisa ou seja lá o que você deseja falar através da sua coreografia, peformance ou improvisação.

Baseado nessa afirmação, pretendo postar com alguma regularidade, textos e poesias que me auxiliaram em alguma construção ou que possam ser úteis para a sua construção de corpo em dança. E inaugurando, posto aqui uma poesia de Cecília Meirelles que se tornou meu lema na equipe de evangelismo com artes (Adufes Cia de Artes), do qual sou parte.

Segue:


FALAI DE DEUS

Falai de Deus com a clareza
Da verdade e da certeza:
Com um poder

De corpo e alma que não possa
ninguém, à passagem vossa,
não o entender

Falai de Deus brandamente,
que o mundo se pôs dolente,
tão sem leis

Falai de Deus com doçura,
que é difícil ser criatura:
bem o sabeis

Falai de Deus de tal modo
que por Ele o mundo todo
tenha amor

à vida e à morte, e, de vê-lo,
o escolha como modelo superior

Com voz, pensamentos e atos
representai tão exatos
os reinos Seus,

que todos vão livremente
para esse encontro excelente.
Falai de Deus.


(Cecília Meirelles)

sábado, 26 de abril de 2008

O Meu Deus Dança.



“Eu só creria num Deus que soubesse dançar...” - Friedrich Nietzsche


Meu pai não dançava, e não apenas porque a muleta o impedia, mas porque na família dele a dança não era tão celebrada, embora alguns dos meus tios gostassem de um arrasta pé à moda cabocla. Minha mãe dançava menos ainda. Filha da Mãe Velhinha, protestante, puritana, com mania de limpeza, com ódio de festa, e seu trauma com um marido mulherengo, minha vovó não poderia nem sequer se imaginar dançando. Daí minha mãe jamais ter dançado, exceto depois de velha, e já puxada por mim como brincadeira. Eu cresci sem dançar, embora, aí pelos 7 anos, eu adorasse tentar bailar. Dancei a primeira vez já aos 12 anos, quando, forçado por uma namoradinha, me vi diante de um “ou dança, ou dança”. Então dancei pra não dançar. E gostei... Dali em diante passei a dançar, até que conheci, em Manaus, aos 15 anos, alguns dos melhores dançarinos de salão que eu já tinha visto dançar. Celsinho foi um amigo que me soltou na dança. Ele era habilidoso, e me tirou a timidez de rebolar machamente, de me deixar levar pelo som, de emprestar o corpo à musica, e de deixar a musica fazer possessão da alma, transformando isso em movimento e forma: estética em movimento e sincronia. Então me soltei, e, durante anos dancei com imenso prazer, todos os dias, às vezes quase o dia inteiro, e, com certeza, todas as noites. Eu tinha prazer em dançar! Depois veio a conversão e o dançar entrou na lista das coisas mundanas que deveriam sair de minha existência. E, assim, nunca mais dancei, até que chegou dezembro de 1998, quando voltei a dançar, embalado também pelas agonias de meus desastres e tristezas, bem como da vergonha publica provocada pela exposição no malfadado “Dossiê Caymam”. Dancei, dancei e dancei. Dancei como índio quando se prepara para a guerra. Escolhi seguir o ritmo das percussões quando dançava. E me abandonava, de olhos fechados, à tirania e à possessão que a musica exerce sobre aquele que entrega sua alma ao ritmo e o corpo ao movimento provocado pela força da musica. E como me fez bem! Depois disso não mais deixei e nem pretendo deixar de dançar com minha mulher. Dançamos em casa, dançamos sozinhos, dançamos em casamentos, em festas, e dançamos em pistas dançantes... A minha pergunta é: por que os cristãos não dançam? Como? Se o primeiro milagre aconteceu numa festa, se a volta do pecador a Deus é como uma festa com dança, se o convite do reino é para um casamento com festa, se Jesus vivia em festas e banquetes, e também se a Escritura inteira sempre relaciona a vinda da Graça à sociedade, com danças de virgens, folguedos na praça, canções de amor, e vinho de alegria? Ora, até os judeus da idade da pedra da revelação, dançam. Dançam religiosamente; e dançam por mera alegria. Mas os cristãos não dançam. Ora, de onde vem isto? A viagem é longa, mas o roteiro básico é esse: o ascetismo que dominou setores da igreja, inibiu o estético e o artístico; a dicotomia gerada pela absorção do gnosticismo, produziu uma separação entre o material e o espiritual; o sacerdotalismo judaico, revivido pelo sacerdotalismo romano, com muitas absorções dos cultos pagãos, criou a ambiência do 'misterioso sem movimento'; os movimentos de santificação pela via das mortificações, impediam qualquer que fosse a expressão de afeto e toque; e a chegada do puritanismo protestante, e seus filhotes comportamentais e legais, os pentecostais legalistas, consumaram a obra de paralisia do corpo em relação a nada que não seja sinal de comunicação, expressão de funcionalidade física e profissional, e minimamente no ato conjugal moderado e sóbrio. Mas dançar? Jamais! Essa coisa de se mexer ao sabor dos contornos de uma musica ou melodia, e de se entregar a movimentos coordenados e em harmonia com outro corpo, é algo que ofende o paganismo greco-romano-anglo-saxão-puritano, e que constituiu a parede emocional e cultural do protestante e do evangélico, até mais do que do católico. Pela dança se celebra a alegria da vida, e tudo que é alegria de viver, é gratidão a Deus. Dançar não só é gostoso, como também pode até mesmo conduzir a pessoa a uma espécie de êxtase. Não raramente me sinto arrebatado quando danço com sinceridade. A dança é bela, linda, fascinante, mas só será sensual se quem dançar estiver gerando uma energia sensual; ou se o observador estiver com o olhar contaminado pela cobiça. Dançar, no entanto, é extravasar a alma mediante uma linguagem supra-racional, e que pode ser pura expressão de ser e sentir. Todavia, esse dançar não é acontece na “boquinha da garrafa”. Ele é portal dos sentidos e acontece nas fronteiras dos extra-sentidos. Portanto, não se inspira enquanto rebola subindo e descendo até a “boquinha da garrafa”. Quando leio os evangelhos vejo cada vez mais Jesus se movendo conforme as ondas e melodias de cada musica histórica que o afetava como fado de enfermidade, como danças de curas, como balés de milagres, como poesia de mensagens, como plasticidade cênica incomparável; e como presença certa em muitos jantares e banquetes, não importando a casa, mas apenas a recepção. Tudo em Jesus tem arte, estética, movimento, poesia, melodia, e ritmo. E Suas histórias são cheias de imagens e parábolas de festa, dança e convites a banquetes divinos e casamentos. Para Jesus até os anjos dançam e bailam quando uma consciência volta a si e se entrega ao amor do Pai. A grande ironia é que o Evangelho da dança, do banquete, da festa, das bodas, dos beijos de reconciliação, e do bom humor e das histórias até irônicas, virou o Cristianismo e seus filhos, os quais são contra toda alegria que não seja explicitamente litúrgica, que são contra a alegria do corpo, que são contra o bailar livre da alma e do corpo como expressão de gratidão explosiva ou como mera expressão de gáudio humano e sadio. Quem reclama muito disse hoje em dia são as mulheres dos homens crentes, que dizem que “não é bom”, porque o maridão crente não aprendeu a dançar. Dançar pode ser terapêutico para tudo, inclusive para a vida sexual, sem falar que é um dos mais eficazes desopilantes psicológicos. Jesus disse que os jejuns e tristezas seriam normais quando o Noivo (Jesus) fosse tirado dos discípulos. Mas isso seria apenas por “um pouco”, e, outra vez, em apenas um outro “um pouco”, e eles O veriam; e, dessa vez, sua alegria ninguém poderia tirar. Para mim um dos maiores sinais de cura humana, psicológica, cultural, e de grande libertação acontecerá no dia em que eu vir os crentes dançando pela alegria de dançar, fazendo isto como celebração da vida, conforme Jesus ensina no espírito do Evangelho, o qual se estriba em Sua própria atitude frente às celebrações humanas e ante as simples alegrias desta vida. O que os cristãos da religião precisam saber é que as danças da Nova Jerusalém não serão Piquiniques Evangélicos, mas ao contrário, serão celebrações de todas formas de expressão de vida que existirem nos povos. Quem não gosta, melhor é que vença esse preconceito, pois, o convite eterno é para a Festa do Cordeiro.
Nele, em Quem meu ser dança,
Caio Fábio


A Verdadeira Guerra da Adoração





Esqueça a disputa entre cânticos contemporâneos e hinos tradicionais – o problema é: onde está a justiça? - Por Mark Labberton (tradução de Whaner Endo)


Em um culto de louvor que participei, minha atenção dirigiu-se ao entusiasmado líder do louvor. Ele começou o momento com uma oração, pedindo a Deus para nos levar à sua presença. Ainda com seus olhos fechados, enquanto a banda continuava a tocar, ergueu suas mãos e ofereceu sua oração de louvor a Deus.

Foi aí que percebi que, enquanto cantava agitadamente, ele pisava os pés dos músicos que estavam atrás dele. Não apenas uma vez, mas repetidamente durante toda a música. E o pior, sem se desculpar, sem reconhecer o seu “tropeçar no espírito”. Ele estava apenas adorando ao Senhor, enquanto pisava no seu próximo.

Não tenho dúvida de que o líder do louvor estava tão absorvido pela sua própria experiência de adoração que perdera a noção dos demais que estavam à sua volta. E este é exatamente o problema.

Embora nossa paixão aparente por Deus, no final das contas nossa adoração parece ser, em grande parte, adoração a nós mesmos. Não assumimos que podemos adorar de uma forma que, mesmo encontrando Deus, nos distanciamos do nosso próximo. E, na verdade, foi esse padrão de adoração na vida de Israel que trouxe a eles o julgamento do Senhor. Adoração bíblica nos leva ao encontro a Deus, mas também ao próximo.

O que é irônico e, especialmente pertinente, é que muitos debates sobre adoração são apenas formas indiretas de falarmos sobre nós mesmos, não sobre Deus. Nosso debate é se gostamos ou não do estilo do nosso culto de louvor semanal. É uma adoração de consumo, em vez de uma adoração de oferta. É uma expressão do gosto humano e, não reflete mais a glória de Deus.
Se adoramos Jesus Cristo, então temos de viver como Jesus. De fato, Jesus disse em Mateus 25.31-46 que nosso louvor será medido de acordo com o que vivemos.

O epicentro da guerra sobre adoração é esse: nossa prática de adoração está separada do nosso chamado à justiça e, o pior, promove as tendências à auto-indulgência da nossa cultura, em vez de nutrir uma vida de auto-sacrifícios em prol do Reino de Deus.


Paralizados nos bancos das igrejas

Eu não me excluo dessa crítica, nem por um momento. E nem a congregação à qual faço parte. Muitos de nós estamos simplesmente ocupados demais com nosso dia-a-dia. A não ser as grandes manchetes, poucos problemas mundiais calam em nossos corações. E, quando prestamos atenção, normalmente experimentamos uma avalanche de notícias sobre um interminável senso de necessidade e desespero vindo de lugares como Timor Leste, Darfur, Baixo-Saara, Bangladesh, Haiti.

Admitimos que pessoas estão sofrendo no mundo. Mas, concluímos que o sofrimento “daquelas pessoas” não tem nada a ver com a gente; que morrer de fome nos campos de refugiados no Sudão é diferente do sofrimento das pessoas sem teto que encontramos no caminho para o nosso trabalho; que aquilo está além da nossa possibilidade de resposta ao sofrimento mundial.
Parte dessa doença é este trágico raciocínio: em face das necessidades mundiais, se não podemos fazer tudo, então não podemos fazer nada. Ficamos paralisados, inertes.

Enquanto isto, nosso mundo sofrido espera por um sinal de Deus na terra, “com grande expectativa que os filhos de Deus sejam revelados” (Rom. 8.19). O plano de Deus é que nós, a igreja, sejamos a evidência primeira da presença de Deus. Todo continente precisa de sinais concretos disto. Estatísticas surpreendentes sobre grilagem de terras e escravidão, má nutrição e fome, AIDS e prisões injustas são abundantes. Um abismo enorme entre a realidade atual do mundo e as preocupações da maioria dos cristãos na América do Norte.

O chamado de Jesus para “ir e fazer discípulos” deve ser realizado num mundo como este. As boas novas que transforma vidas é o amor salvador de Deus em Jesus Cristo, que deseja transformar cada pessoa e cada coisa (inclusive toda forma de injustiça e opressão) em algo novo. Esta é a nossa esperança e comissionamento.

A verdadeira crise na adoração é essa: será que as pessoas adorarão a Deus de uma forma que demonstrarão que estamos acordados? Adorando seu próximo em nome de Deus? Iremos adorar o Deus vivo enquanto ele nos pede “que façamos o que é direito, que amemos uns aos outros com dedicação e vivamos em humilde obediência ao nosso Deus”?
Líderes de adoração talvez queiram focar apenas no que parece culturalmente e socialmente urgente. Mas, se fomos criados para adorar o Senhor de toda criação, o Salvador do mundo, então enquanto estamos checando o som ou refletindo em orações ou sermões, temos de permanecer firmes numa visão mais ampla do amor de Deus.


O mundo na nossa adoração

Por muitos anos, recebo a cada domingo pela manhã um e-mail de missionários parceiros que apoiamos. Este casal e suas três filhas pequenas estavam vivendo e servindo junto às crianças em risco no Camboja. Um dos únicos emails que eu lia antes do culto era o seu relatório semanal. Eu lia como uma disciplina espiritual, como um pedacinho de misericórdia e verdade, como um lembrete e um chamado.

Eu precisava liderar nosso culto de adoração em Berkeley com meu coração renovadamente tocado pela realidade do sofrimento do mundo, da urgência em ouvir e viver a esperança do Evangelho, e o alegre e custoso chamado para uma vida de sacrifício em nome de Jesus.

A cada domingo eu desejo servir às pessoas nos primeiros bancos das igrejas e levá-los à transformadora presença do Senhor. O problema é: mas qual critério usar?

As escrituras indicam que a resposta é: aqueles que se sentem abençoados pela adoração vivem vidas transformadas. A evidência não é apenas os comentários logo após o término do culto, mas se as pessoas estão realmente dando suas vidas pelos pobres e oprimidos de forma tangível.

Num desses domingos, eu preguei sobre o Salmo 27, um salmo maravilhoso que descreve claramente o que é ter medo e encontrar o conforto de Deus. Tenho certeza que o sermão foi, pelo menos um “bom sermão”, talvez um “grande sermão”. Durante aquela semana eu fui a um jantar promovido pela International Justice Mission, uma organização cristã que busca justiça para pessoas que estão enfrentando várias formas de opressão.

Elisabeth, uma bela jovem de 17 anos do sudeste da Ásia, falou à noite. Ela cresceu num lar cristão, memorizando versículos bíblicos, que se tornaram mais vivos durante os anos em que ela ficou seqüestrada, forçada a prostituir-se, escravizada em um miserável bordel. Enquanto ela falava, projetava imagens do seu quarto naquele bordel. Sobre a cama, onde ela era brutalmente maltratada, dia após dia, ela havia escrito estas palavras na parede: “O SENHOR Deus é a minha luz e a minha salvação; de quem terei medo? O SENHOR me livra de todo perigo; não ficarei com medo de ninguém. Quando os maus, os meus inimigos, me atacam e procuram me matar, são eles que tropeçam e caem”. São os versículos iniciais do Salmo 27.

Relembrei o domingo anterior e o meu sermão sobre o mesmo salmo, lembrei dos medos que eu listara para as pessoas na minha igreja. Eram medos reais e legítimos, mas nenhum deles era tão enfático como os que Elisabeth enfrentara. Eu tinha como que uma imagem de um filme mudo na minha mente, ouvindo Elisabeth, enquanto visualizava um encontro de adoração da minha comunidade, em um domingo qualquer. Enquanto estávamos ocupados tentando estacionar nossos carros em Berkeley naquela manhã, uma tarefa “tão horrível” (como uma pessoa me disse recentemente), Elisabeth estava indo adorar do seu jeito. Ela achegava-se a Deus no seu quarto sem janelas, naquele bordel. E nós, na nossa igreja cheia de vitrais...

Se nós enxergássemos a história de Elizabeth através das lentes da narrativa bíblica, perceberíamos que amar a Deus nos impulsionaria a amar Elizabeth. Não porque sua história nos provoca sentimento de compaixão, mas porque sua vida e circunstâncias reivindicam aqueles que adoram Jesus Cristo.


Adoração como se o mundo dependesse disso

Verdadeiros adoradores aclaram o propósito de Deus e nossa parte nisso. Falsos adoradores, que podem ser encontrados facilmente tanto entre o povo de Deus quanto em qualquer outro lugar, nos levam a uma missão totalmente distorcida.

Tome-se como exemplo o poder, por exemplo. Poder é um das mais profundas bênçãos de Deus e, portanto um dos principais alvos dos falsos adoradores; ou seja, tomam o poder e mal utilizam-no para outras coisas, além de honrar o Senhor e sua criação. O sofrimento de Elizabeth, e muito do nosso próprio sofrimento, tem a ver com o abuso de poder. Adoradores fiéis ajudam-nos a aclarar e limitar o poder humano em nossas mentes e corações. Falsos adoradores nunca fazem isso. Falsos adoradores determinam a injustiça, uma distorção ou aberração do poder. Adoradores fiéis perguntam se estamos vendo e vivendo a realidade de Deus ou a ficção criada pelas nossas próprias vidas decaídas. Quando nós ou qualquer outra pessoa além de Deus assume o papel principal, a vida nos “chicoteia” para fora da direção.

Os efeitos da falsa adoração distorcem nosso senso de Deus, levando-nos a injustiças e sofrimento, orgulho e prepotência. Os prejuízos continuam implacavelmente. Não é a toa que Deus se enfureceu com Israel, ou com a Igreja, quando essa distorção foi perpetuada exatamente pelas pessoas que Ele tomou para si. Essa é a mensagem ardente de Isaías, Jeremias e Amós. Esta é o front da Guerra da Adoração que realmente interessa ao Senhor. A quem devemos temer?

Outra distorção que a falsa adoração promove é essa: perdemos a noção do desejo que o Senhor tem em nos fazer testemunhas do seu amor e justiça. Deus quer que dos verdadeiros adoradores fluam vidas que sejam evidências, nesse mundo, do seu caráter justo e íntegro. A falsa adoração, em vez disso, leva à falsa representação: podemos falar no nome de Senhor, mas falhamos em mostrar a Sua vida. O profeta Isaías disse que, quando o povo de Deus faz isso, mentimos sobre o Deus que representamos (Isaías 5.20-23; 29.13-16).

Deus quer que os descendentes de Abraão sejam abençoados e abençoadores. O relacionamento que tinham com Deus era tanto para seu bem quanto para o bem daqueles que, através deles (e de nós, também) “sentiam e viam que o Senhor é bom”. O mundo deve ver e saber das coisas de Deus através das vidas e ações dos verdadeiros adoradores.


Adoração que rearranja

Em uma viagem à Índia, conversei com um pastor sobre hábitos de leitura. Ele me disse: “se eu economizar por quatro meses, poderei comprar um livro cristão com o desconto que me dão. Nunca viajei para fora da Índia, mas já ouvi que nos Estados Unidos, algumas vezes compram livros e não os lêem”. E me perguntou com espanto: “Isso é verdade?” Murmurei alguma coisa para encobrir, enquanto eu pensava nos livros que existiam nas minhas prateleiras.

Nossa preocupação não é saber se compramos livros e não os lemos, mas quantos compramos. Se vacinamos nossas crianças ou não, mas se podemos acompanhar o processo para comprová-lo nas escolas dos nossos filhos. Não é se nos alimentamos ou não, mas o quanto comemos além do que precisamos ou até mesmo queremos. Não é se temos cama, mas qual a cor do lençol. Se teremos a possibilidade de ouvir sobre o amor de Deus em Jesus Cristo, mas qual ministério, igreja ou meio de comunicação eu mais gosto. Algumas pessoas, no nosso País, não têm a possibilidade de fazer essas escolhas (um escândalo, por si só). Mas, a maioria das pessoas nos Estados Unidos, tem. Enquanto isso, milhões de pessoas do sudoeste asiático e outros países pobres não poderão, nunca, tomar as suas próprias decisões.

Essa disparidade econômica e suas injustiças são questões para a adoração. De acordo com as escrituras, a principal forma de mostrarmos ou distingüirmos a verdadeira adoração da falsa adoração tem a ver com como respondemos aos pobres, oprimidos, negligenciados e esquecidos. E hoje não vejo esse tema borbulhando nas águas da adoração na Igreja americana. Mas justiça e misericórdia não são assessórios da adoração e, nem conseqüência do louvor. Justiça e misericórdia são intrínsecos a Deus e, portanto intrínsecos à adoração a Deus.Nossa adoração deve nos levar a uma maior misericórdia, a profundos atos de justiça, por aqueles que são os últimos da lista, os últimos a serem lembrados e os últimos a serem desejados.

A vigorosa adoração bíblica deve parar ou ao menos redirecionar nosso consumismo sem fim, de forma a fazer que nossas livres e fiéis escolhas sejam “gastar menos” para assim podermos “dar mais”. A reputação da nossa comunidade, como as escrituras sugerem, deveria ser a de compromisso com aqueles que perseguem a justiça, com os oprimidos, pois isso é o que significa sermos o Corpo de Cristo na terra. Não deveríamos nos enganar, pensando que isso é suficiente para nos levar ao coração de Deus, sem que nossas vidas mostrem ao mundo o coração desse Deus.





Trecho do livro “The Dangerous Act of Worship - Living God's Call to Justice” que será publicado no Brasil pela W4 Editora.

Mark Labberton é pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Berkeley, Califórnia.

Fonte:
LeadershipJournal.net via Blog da W4 Editora